28.2.10

Equador 4

Bom, então fomos a Otavalo, mais ao norte do país. É uma cidade pertencente aos índios Otavalos. O município todo possui em torno de 90.000 habitantes, quase todos índios (93% quechuas/7% de mestiços). Na cidade estão 30.000 pessoas, falam o idioma quechua e se vestem com a roupa tradicional do seu povo. As mulheres usam saia preta e blusa branca. A variação fica por conta das cores dos bordados e faixas de cintura mas todas praticamente iguais e os homens usam o cabelo comprido em rabo de cavalo ou trança, calça branca e uma espécie de alpargatas nos pés. Mas nem todos os jovens estão aderindo a tradição, e segundo eles, uma das causas é o fato da nova geração viajar muito. A cidade é muito parecida com as nossas, moderna, bonita e bem organizada, até ciclofaixa existe demarcada na rua. São muito trabalhadores e realmente são donos da cidade, dos empreendimentos e dirigem carrões. Diz a história que os Otavalos já viviam aqui há 13000 anos ac, então lá por 1500 foram dominados pelos Incas. Depois disso ainda sofreram a invasão espanhola e a catequização. Mantiveram a tradição e trabalham para comprar de volta as terras que lhes foram usurpadas no passado. E parece que estão conseguindo. Estamos no Hotel El Indio Inn, pertencente a Otavalos. Todo o atendimento é feito por eles, naturalmente vestidos com as roupas tradicionais. Mas Otavalo entra no roteiro de qualquer viajante porque abriga aos sábados a maior feira de artesanatos de toda América Latina. É famosa pela qualidade dos tecidos e bordados feitos por eles. Iríamos ficar lá apenas duas noites, mas em função da quantidade de atrativos nos arredores e para descansar um pouco, resolvemos ficar mais um dia. Próximo a Otavalo tem muitas atrações naturais: visitamos as lagoas Mojanda (3720 m) e Karicocha de origem vulcânica e glacial, respectivamente; a cidadezinha de Cotacachi, no pé do vulcão do mesmo nome (4944); a laguna Cuicocha, dentro da cratera de um vulcão extinto (que inclusive possui ilhas). Além disso passeamos por alguns povoados indígenas (Peguche, Iluman, Agato). São essencialmente agricultores de subsistência e artesãos, porém muito pobres. Alguns povos se encontram nas mesmas condições de miséria que os nossos índios no Brasil, a diferença é que não os encontramos nas margens das rodovias. Existe muita mendicância na rua, mas por idosos. Idosos e cães (abandonados ou não) nas ruas. É difícil ignorá-los, a ambos. Os velhos pedem moedas e os cães comida. É a nossa América Latina...


Vimos na televisão do hotel um discurso do presidente da república, Rafael Correa, um homem jovem e com um um discurso bem socialista e inflamado. Parece que fala ao povo todos os sábados, mas não na televisão. Na rua em palanque. Falou coisas que lembravam o governo Lula, principalmente no inicio. Estão comemorando os três anos de governo, “La Revolución Ciudadana” e conversando com uns e outros, dizem que é melhor que os anteriores, porém ainda falta muito. Com todos os que conversamos (índios, trabalhadores do hotel e empresários) não crêem no que diz e inclusive temem que se torne um “Hugo Chaves” do Equador. Era o ministro da economia antes e bate na tecla saúde, habitação, educação, e em outras ações já conhecidas nossas, como algo parecido com “bolsa família” e melhorias na educação através de avaliações (de alunos e professores). De um modo geral os preços, pricipalmente das comidas, são parecidos com os do Brasil. Em locais turísticos tendem a ser mais caros. A gasolina é mais barata : U$ 1,50 o galão da gasolina comum e U$ 2,00 o galão da super (um galão=4 litros). Os produtos industrializados são um pouco mais baratos, mas eles não valorizam as "miudezas". Para tudo o valor mínimo é um dólar. É só uma moedinha, mas são quase dois pila. O salário mínimo são U$ 240. Até a pouco tempo atrás eram U$ 80. O pedágio custa só U$ 1, ás vezes U$ 0.60.

O sábado foi reservado para a maior atração de Otavalo, a feira artesanal. Já cedo começa a movimentação dos artesãos, todos índios, que vêm dos “pueblos” próximos. Entre eles falam o Quéchua. É muito bonito, as coisas são baratas (só que não dá para levar tudo!). A tecelagem daqui é de excelente qualidade e têm peças bem originais. Mas quase todos vendem as mesmas coisas. Se você for alto e tiver a pele clara pode pechinchar sem dó, porque os vendedores pedem preços pelo menos duas vezes mais alto do q o normal. Eu comprei uma camisa por dez dólares. Queriam 22. Bacana também é a feira de comidas feitas na rua. Vendem de tudo: desde um simples milho na brasa até um porco inteiro assado ali mesmo. Tem também outros quitutes como batatas com sangue e uma infinidade de pratos feitos com carnes bem suspeitas, já que todas elas ficam expostas o dia todo na praça (claro que sem refrigeração), e a limpeza do frango (todo aquele processo entre a fase de "matar" e a de "comer") é feita ali mesmo. O povo daqui vive tudo isso com intensidade, é uma grande festa de cores e também de cheiros. Foi interessantíssimo e cansativo.

(diferença de tamanho)

Um prato bem tradicional aqui (e no Peru também) é o “cuy”, que nada mais é do que o nosso porquinho da índia. Tem em quase todos os restaurantes. Para se ter uma idéia do quão tradicional é entre os indígenas: na famosa Santa Ceia pintada por Rubens na Catedral de São Francisco em Lima, Jesus e os apóstolos comem o cuy. Assim ficava mais fácil convencer os indígenas, já que Jesus comia o mesmo que eles. Eu até queria experimentar, mas como o padrão de qualidade se manteve coberto de poeira, melhor não. Os dias tem sido bem cheios e divertidos, e são coroados com ótimas noites de sono. Próxima parada: Baños

Até!

:D

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